terça-feira, 4 de novembro de 2014

LEITURA PARA 1ª FASE DO PRISE - BONS ESTUDOS!



ESCOLA SALOMÃO MATOS
LITERATURA – TURMA 1MR01 – PROFESSORA: LUCILENE ALCÂNTARA
Camões  é o maior símbolo que a nação portuguesa pode ter, constitui a síntese da grandeza do nosso país, da sua imensidade, particularmente da língua Portuguesa.
Camões viveu durante o auge de todo o império Português, o que contribuiu para o enaltecimento do povo Lusitano, utilizando o poeta para isso a sua habilidade nata e inigualável. Mas por vezes é no seio de uma vida deplorável que nascem muitos gênios.
Os Lusíadas- Luís Vaz de Camões
 EPISÓDIO - A TEMPESTADE
leitura obrigatória - PRISE 1 / PROSEL 1 
UEPA 2014
Os Lusíadas é uma obra poética do escritor Luís Vaz de Camões, considerada a epopeia portuguesa por excelência. Provavelmente concluída em 1556, foi publicada pela primeira vez em 1572 no período literário do classicismo, três anos após o regresso do autor do Oriente.
A obra é composta de dez cantos, 1102 estrofes que são oitavas decassílabas, sujeitas ao esquema rímico fixo AB AB AB CC – oitava rima camoniana. A ação central é a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama, à volta da qual se vão descrevendo outros episódios da história de Portugal, glorificando o povo português.
Elementos importantes:
A personagem:
 - (os sujeitos ou heróis da ação)
– o povo português, um herói coletivo, que na obra é simbolicamente representado por vasco da Gama.
O maravilhoso
Consiste na intervenção, de entidades sobrenaturais na ação, umas favorecendo, outras dificultando. Cada interventor tem as suas razões para desejar o sucesso ou o insucesso dos marinheiros portugueses.
A forma:
“Os Lusíadas” são uma narrativa em verso, dividida em dez cantos, com um número aproximado de cento e dez estrofes cada. As estrofes são oitavas em verso decassilábico, geralmente heroico.
 O esquema rimático é fixo – ABABABCC – sendo, portanto, a rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos.
Elementos da epopeia (proposição, invocação e dedicatória)
  Proposição - introdução, apresentação do assunto e dos heróis (estrofes 1 a 3 do Canto I);
 Invocação - o poeta invoca as ninfas do Tejo e pede-lhes a inspiração para escrever (estrofes 4 e 5 do Canto I);
Dedicatória - o poeta dedica a obra ao rei D. Sebastião (estrofes 6 a 18 do Canto I);
Narração - a narrativa da viagem, in medias res, partindo do meio da acção para voltar atrás no tempo e explicar o que aconteceu até ao momento na viagem de Vasco de Gama e na história de Portugal, e depois prosseguir na linha temporal.
Desenvolvimento – os quatro planos de organização da narrativa:
A viagem
A quarta parte da epopeia, a narração, é que constitui a ação principal que, à maneira clássica, se inicia “in media res”, isto é, quando a viagem já vai a meio, encontrado-se já os marinheiros em pleno Oceano Índico.
Este começo da ação central, a viagem de descoberta do caminho marítimo para a Índia, quando os Portugueses se encontram já a meio do percurso, no Canal de Moçambique, vai permitir:
 - a narração do percurso até Melinde pelo narrador heterodiegético (cantosI e II)
- a narração da História de Portugal até à viagem (cantos III, IV e V,85), em forma de discurso do Gama, dirigido ao Rei de Melinde e a pedido deste
- A inclusão da narração da primeira parte da viagem e ao surgimento da “doença crua e feia” (escorbuto) na retrospectiva histórica atrás referida
- A apresentação do último troço da viagem (canto VI), entre Melinde e Calecute, de novo por um narrador heterodiegético.
Mas, simultaneamente, os deuses reúnem em consílio, para decidir “sobre as cousas futuras do Oriente” e, de vez em quando, tece o poeta considerações pessoais.
A narrativa organiza-se em quatro planos: o da viagem e dos deuses, em alternância, ocupam uma posição fulcral; a História passada de Portugal está encaixada na viagem; as considerações pessoais aparecem normalmente nos fins de cantos e constituem, de um modo geral, a visão crítica do Poeta sobre o seu tempo.
Já a Proposição aponta para os quatro planos do poema: a celebração de uma viagem a glorificação de um povo do poema: a celebração de uma viagem,a glorificação de um povo cuja histórica será narrada, por traduzir a vitória sobre os deuses, na interpretação pessoal do poeta: “Cantando espalharei por toda aparte”.
A História de Portugal: os discursos e as profecias
 A História de Portugal, exposta em discurso (de Vasco da Gama ao rei de Melinde e de Paulo da Gama ao Catual, para a histórica passada em relação à viagem – 1498) e em profecias ( de Jupiter, de Adamastor, da ninfa Sirena e de Tétis, em relação à história futura em relação à viagem), não tem uma unidade intrínseca.
Uma parte dessa história é dada em sequência cronológica e consta do discurso de vasco da Gama ao rei de Melinde. Outra parte é dada em quadros soltos, como são as pinturas (“bandeiras”) que Paulo da Gama explica ao Catualou as profecias de Júpiter, do gigante Adamastor, de Tétis ou da Ninfa Sirena. Abundam, os discursos, ora dos narradores, ora dos protagonistas das histórias: o da “formosísima Maria”, a seu pai; o de Inês de Castro ao sogro(Afonso IV); o de Nuno Álvares Pereira, no canto IV.
A exposição dos feitos dos Portugueses caracteriza-se pela ausência deuma acção de conjunto. Não é, portanto, que encontrámos a mola do poema.
Os deuses
A intriga dos deuses abre com o consílio, com que se inicia a ação do poema (I; 20-41) e fecha na ilha de Venus, com que ele, praticamente, se encerra.
Formalmente, a unidade de “Os Lusíadas” é estabelecida pela intriga dos deuses. Eles estão em cena desde o princípio até ao fim do poema, o qual abre com o consílio dos deuses e termina com a Ilha dos Amores. Não se trata de mero quadro externo, ou de uma sobreposição, mas da mola real do poema, que não tem outra. As personagens mitológicas têm uma vida que falta às personagens históricas: são elas as verdadeiras criaturas humanas, que sentem,que se apaixonam, intrigam e fazem rebuliço. O Gama é muito mais hirto e frio que o Gigante Adamastor, apesar de este ser um cabo, uma rocha. E ninguém tem o vulto, a irradiação, a força, a personalidade provocante de Venus.
Através da mitologia, Camões exprime algumas tendências profundas do Renascimento:
- a vitória dos homens sobre os deuses, que personificam os limites opostos pela tradição à iniciativa humana
- a confiança na capacidade humana para dominar a natureza
- a concepção da natureza como um ser vivo - a afirmação (apenas virtual) de Deus como uma imanência
 - a crença na bondade da natureza
- a identificação da lei da razão com a lei da liberdade
- a proscrição da noção de pecado
As considerações pessoais
 Este plano, é aquele em que o autor se permite tecer considerações, na maior parte das vezes de caráter satírico, sobre matérias muito diferenciadas:
- a fragilidade da vida humana face aos “grandes e gravíssimos perigos” tanto no mar como na terra (I, 105-106)
- o desprezo a que as Artes e as Letras muitas vezes são votadas pelos Portugueses (V, 91-100) - o valor da glória e das honras por mérito próprio (VI, 95-99)
Conclusão
Canto VI
Finda a narrativa de Vasco da Gama, a Armada sai de Melinde guiada por um piloto que deverá ensinar-lhe o caminho até Calecut. Baco, vendo que os portugueses estão prestes a chegar à Índia, resolve pedir ajuda a Netuno, que convoca um Consílio dos Deuses Marinhos cuja decisão é apoiar Baco e soltar os ventos para fazer afundar a Armada. É então que, enquanto os marinheiros matam despreocupadamente o tempo ouvindo Fernão Veloso contar o episódio lendário e cavaleiresco de Os Doze de Inglaterra, surge uma violenta tempestade. Vasco da Gama vendo as suas caravelas quase perdidas, dirige uma prece a Deus e, mais uma vez, é Venus que ajuda os Portugueses, mandando as Ninfas seduzir os ventos para os acalmar. 
Dissipada a tempestade, a Armada avista Calecut e Vasco da Gama agradece a Deus. O canto termina com considerações do Poeta sobre o valor da fama e da glória conseguidas através dos grandes feitos.
BARROCO BRASILEIRO E PORTUGUÊS
O BARROCO – a arte que predominou no século XVII – registra um momento de crise espiritual na cultura ocidental. Nesse momento histórico, conviviam duas mentalidades, duas formas distintas de ver o mundo: de um lado o Paganismo e o Sensualismo do Renascimento, em declínio; de outro, uma forte onde de religiosidade, que lembrava o teocentrismo medieval.
No século XVI, o Renascimento representou o retorno à cultura clássica Greco – latina e a vitória do antropocentrismo. No século XVII, surgiu o Barroco, um movimento artístico ainda com alguns vínculos com a cultura clássica, mas que buscava caminhos próprios, condizentes com as necessidades de expressão daquele momento.
BARROCO EM PROTUGAL
O Barroco português se deu num movimento em que o País vivia uma crise de identidade, uma vez que se encontrava  sob o domínio político da Espanha. Dois aspectos podem ser identificados na produção literária desse período: de um lado, o esforço dos portugueses em preservar sua cultura e a sua língua; de outro, as influências da Contrarreforma, que deram origem a uma ampla produção de caráter religioso, como a Pe. Antônio Vieira, o principal escritor português de século XVII.

OFENDI-VOS,   01-   OFENDI-VOS, MEU DEUS,  BEM É VERDADE

Ofendi-vos, Meu Deus, bem é verdade,                                           
É verdade, meu Deus, que hei delinquido,          
Delinquido vos tenho, e ofendido,       
Ofendido vos tem minha maldade

Maldade, que encaminha à vaidade,                  
Vaidade, que todo me há vencido;      
Vencido quero ver-me, e arrependido,
Arrependido a tanta enormidade
.


 Arrependido estou de coração,
De coração vos busco, daí-me os braços,
Abraços, que me rendem vossa luz.

Luz, que claro me mostra a salvação,
A salvação perdendo em tais abraços,
Misericórdia, Amor, Jesus, Jesus.


                           GREGÓRIO DE MATOS











.
Nesse poema temos a subjetividade poética de Gregório de Matos Guerra evidenciada. Os versos se baseiam nas Escrituras ou nos poderes espirituais do Cristo menino.
 O poeta parece se encontrar no dia do Juízo, em que confessa, de saída, a enormidade de seus pecados e delitos, dirigindo-se direta e enfaticamente a Deus e a Jesus, mostrando-se arrependido “de coração”, a fim de obter a “salvação”, segundo a processualística católica.
Características do poema:
- O autor está dividido entre pecado e virtude (sente culpa por pecar e busca a salvação) - O autor vê o pecado como um erro humano, mas também, como a única forma de Deus cometer o ato do perdão.
- O eu-lírico, muitas vezes, se comporta como advogado que faz a própria defesa diante de Deus (para tal, usava, até mesmo, trechos da Bíblia)
Este poema expressa arrependimento e a preocupação com a salvação da alma. Muitos historiadores veem como uma das tendências básicas no estilo Barroco o Cultismo que nada mais é o jogo de palavras, a arrumação metafórica do texto, preciosismo vocabular, erudição, rebuscamento da forma, ou seja, o que estava em pauta era a habilidade verbal do escritor e essa supervalorização da forma é mais comum na poesia. Repare o extremo cuidado formal que o autor teve repetindo o final de cada verso no começo do seguinte:
Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade,
É verdade, Senhor, que hei delinqüido,
Delinqüido vos tenho e ofendido,           
Ofendido vos tem minha maldade.
O cultismo empregado dá mais ênfase ao sentimento de culpa e de desgraça causado pelo pecado cometido. Pelo poema percebemos que este estado de culpa é o arrependimento e que em seguida há a súplica pela salvação. As dúvidas, os conflitos e as incertezas deste período é o que criou o Barroco.

02- "A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR"    

Pequei, Senhor; mas não por que hei pecado,         
Da vossa alta clemência me despido:         
Porque, quanto mais tenho delinquido,                      
Vos tenho a perdoar mais empenhado.        

Se basta a vos irar tanto pecado    , 
A abrandar-vos sobeja um só gemido:          
Que a mesma culpa que vos há ofendido, 
Vos tem para o perdão lisonjeado                



 Se uma ovelha perdida e já cobrada            
Glória tal e prazer tão repentino    
Vos deu, como afirmais na sacra história,  

Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada;              
Cobrai-a ; e não queirais, pastor divino,        
Perder na vossa ovelha a vossa glória.

GREGÓRIO DE MATOS
POESIA RELIGIOSA   



         




ANÁLISE
Esta é uma poesia religiosa de Gregório de Matos, que apresenta uma regularidade formal (métrica e rítmica), sendo que, questiona o mundo e os homens. Abordando dessa forma os valores religiosos. Apresenta versos decassílabos (versos com dez sílabas poéticas), rimas regulares, ou seja, rimas opostas ou interpoladas nos dois quartetos (ABBA/ABBA) e rimas mistas nos dois tercetos (CDE/CDE).
Nos temas que abrange a religiosidade, Gregório de Matos, destaca o medo da punição divina, o desespero pela busca do perdão, sendo que geralmente, se associam esses princípios ao arrependimento na hora da morte, pois isso reflete, a vários fatores, um deles é o clero por ter explorado as populações ingênuas com a venda de indulgências, e prometendo ainda, que quanto mais pagassem a igreja mais era garantido seu lugar no céu. Vale ressaltar também, que o homem barroco não era um homem feliz, pois vivia dividido entre as conquistas do pensamento renascentista e a necessidade de volta-se para Deus, buscando o perdão de seus pecados.        
Gregório utiliza um vocabulário rico e reverente. E nesta poesia retrata justamente a época que vivia, a culpa X perdão, denotando dessa forma toda a angústia que sentia, pois Gregório tinha fé em Deus, só apenas era inconformado com as hipocrisias das religiões de sua época, como o tráfico de relíquias, século XVI.        
No primeiro quarteto, o poeta invoca o senhor dizendo ter pecado, mas não ter cometido nenhuma desobediência ao pecar, se despede de Deus devido algum ato que cometeu, sendo que menciona que quanto mais comete delitos, mas a divindade o ajuda, ou seja, o fato de ser pecador deve garantir a ele o perdão de Deus, pois se Deus o perdoa, o mesmo necessita do perdão do pecador para poder exercitar seu atributo divino. No verso "(...) quanto mais tenho delinqüido, vos tenho a perdoar (...)", é possível destacar o perdão e o pecado, utilizando-se de antítese.    
Na segunda estrofe trata-se do arrependimento, de tantos pecados cometidos, querendo abrandar a Deus, por ter lhe ofendido mais também o lisonjeado, pois sem o pecador como Deus poderia perdoar, e na passagem do verso (Se basta a vos irar tanto pecado), se tem à figura de linguagem, anástrofe. E tanto na primeira quanto na segunda estrofe tem a característica do Barroco, o cultismo (jogos de palavras). Já no primeiro e segundo tercetos, é possível analisar que o poeta aborda a parábola da ovelha perdida, em que Jesus fala do amor que o pastor sente por suas ovelhas, principalmente a que está perdida e então vai atrás e a devolve ao rebanho.        
Com isso se percebe que o eu-lirico se identifica com uma ovelha merecendo a salvação, aí se tem o conceptismo (jogo de idéias) e notada também a figura de linguagem, como a metáfora (Eu sou, senhor, a ovelha desgarrada;), e utilizando-se de uma linguagem rebuscada quando chama a Bíblia de Sacra História e Jesus, de Pastor Divino. É possível observar esta passagem na bíblia do evangelho Lucas, no capítulo 15, versículos 2 a 7, na qual menciona a parábola da ovelha perdida e diz ainda que "...haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende...". 
Poesia Satírica (Social/irônica/política)
Graças à sua poesia satírica, com termos de baixo calão e críticas abertas à sociedade baiana, o poeta ganhou o apelido de “Boca do Inferno”.
- Ironia corrosiva e caricatural contra todos os setores da vida colonial baiana: senhores de engenho, clero, juízes, advogados, militares, fidalgos, escravos, pobres livres, índios, mulatos, mamelucos, etc.
Com seu olhar ressentido de senhor decadente, Gregório de Matos vê na realidade apenas corrupção, negociata, oportunismo, mentira, desonra, imoralidade, completa inversão de valores. A poesia satírica, portanto, para ele é vingança contra o mundo.


03- QUE ME QUER O BRASIL
Que me quer o Brasil, que me persegue?
Que me querem pasguates, que me invejam?
Não vêem, que os entendidos me cortejam,
E que os Nobres, é gente que me segue?

Com o seu ódio a canalha, que consegue?
Com sua inveja os néscios que motejam?
Se quando os néscios por meu mal mourejam,
Fazem os sábios, que a meu mal me entregue.

  

    Isto posto, ignorantes, e canalha
Se ficam por canalha, e ignorantes
No rol das bostas a roerem palha.

E se os senhores nobres, e elegantes
Não querem que o soneto vá de valha,
Não vá, que tem terríveis consoantes.

                               GREGÓRIO DE MATOS

Gregório de Matos escreve este poema em forma de indagação, numa crítica à sociedade brasileira, trazendo para a sua poesia o dualismo do colono com a nobreza, bem como do dinheiro com a sabedoria. Percebe-se que o feísmo barroco se faz presente, posto que mostra preferência pelos aspectos cruéis , como na utilização das palavras “canalha” e “bostas”, ocorrendo assim uma atração pelo belo horrendo.
Criando espaços de ambiguidade, ele utiliza-se de linguagem complexa e rebuscada, presente em versos tais como “Com sua inveja os néscios que motejam?” “Se quando os néscios por meu mal mourejam”, mostrando elementos do cultismo.
 É importante ressaltar esse jogo de palavras que Gregório de Matos utiliza neste poema, pois ao mesmo tempo em que ataca, ele aconselha, visto que suas críticas eram dirigidas para o modo que a sociedade brasileira agia em relação a nobreza portuguesa, bem como a nova “nobreza brasileira” era baseada no dinheiro e num conformismo com a visão e a mentalidade do colonizado permitindo-se ser explorada, expressa nos versos através de reclamações vazias de uma população que não buscava crescer em termos de conhecimento e sabedoria, mas que se afundava constantemente na ignorância. A segunda estrofe traz essa crítica de maneira direta:
“Isto posto, ignorantes, e canalha
Se ficam por canalha, e ignorantes
No rol das bostas a roerem palha.”
Ao mesmo tempo, há em seus “elogios” finais à nobreza uma sátira mascarada:
“E se os senhores nobres, e elegantes
Não querem que o soneto vá de valha,
Não vá, que tem terríveis consoantes.”

Esta sátira gira em torno do medo dos nobres portugueses de que a população colona e escrava adquirisse uma consciência crítica e política, tornando-se uma “nobreza brasileira”, distanciando-se cada vez mais distante do controle da metrópole.
Gregório compreendia que a inveja provinha do fato de ele ser renomado e reconhecido pela “nobreza” local. Sentia-se motejado (caçoado) e dizia que os néscios “mal moureja” (trabalham, arquitetam). Amaldiçoa seus perseguidores (Isto posto, ignorantes, e canalha/Se ficam por canalha, e ignorantes/No rol das bostas a roerem palha) e isenta os elegantes e nobres de suas palavras (E se os senhores nobres, e elegantes/Não querem que o soneto vá de valha,/Não vá, que tem terríveis consoantes).
Elementos determinadores da sátira – São as palavras escarnecedoras que Gregório utiliza para expressar sua revolta contra as perseguições que sofria na Bahia.
Ao maldizer os ignorantes que o seguem zombando-lhe, são palavras de escárnio como: “pasguates”, “canalha”, “ignorantes”, “néscios”, “motejam”, “terríveis consoantes”, “rol das bostas”.
Objeto da sátira – Gregório fala dos brasileiros que o perseguem, sejam os imbecis que o invejam, os ditos sábios que o bajulam ou aos nobres que o criticam. Critica a plebe ignorante, perseguidora das virtudes, chamando-a de ignorantes escarnecedores.
Momento histórico – Gregório de Matos estava vivendo em um momento em que ao escrever seus poemas, destinava aos brasileiros que o maldiziam pelo o que escrevia satirizando a sociedade.
Aspectos Barrocos – Metáfora, ordem indireta, uso de figuras de linguagem, critica pessoas do povo como ignorantes que maldiziam o que desconheciam.


04-  Ó TU DO MEU AMOR FIEL TRASLADO
Ó tu do meu amor fiel traslado
Mariposa entre as chamas consumida,
Pois se à força do ardor perdes a vida,
A violência do fogo me há prostrado.

Tu de amante o teu fim hás encontrado,
Essa flama girando apetecida;
Eu girando uma penha endurecida,
No fogo que exalou, morro abrasado.

  

   Ambos de firmes anelando chamas,
Tu a vida deixas, eu a morte imploro
Nas constancias iguais, iguais nas chamas.

Mas ai! que a diferença entre nós choro,
Pois acabando tu ao fogo, que amas,
Eu morro, sem chegar à luz, que adoro.

                                 GREGÓRIO DE MATOS

Análise:
       Podemos incluir o soneto de Gregório de Matos na tendência conceptista do Barroco, graças ao engenhoso desenvolvimento de uma única imagem, a da mariposa atraída pela chama que deverá matá-la.
       O sujeito lírico desdobra a comparação entre a sua situação e a da mariposa, explorando as semelhanças, para, na última estrofe, ponto culminante do soneto, estabelecer a grande diferença: seu sacrifício é mais terrível do que o dela, por que inútil.
Este soneto, de linguagem mais complexa que o anterior em virtude do uso do hipérbato (inversão), pauta-se na comparação entre o eu-lírico e a mariposa. Em comum ambos têm a atração por um objeto, o qual circundam (anelam): a mariposa é inevitavelmente atraída pelo fogo, o eu lírico pela amada, que, em oposição ao fogo, é pedra, ou seja, é dura, fria, não corresponde aos seus anseios. O sofrimento do eu lírico pelo comportamento distante do ser amado e por causa deste sofrimento, o eu lírico exageradamente (hipérbole) afirma ter vontade de morrer. A diferença, a oposição final que assinala o quão infeliz é o eu lírico em seu amor não correspondido está no fim trágico da mariposa e a metáfora que este fim representa para o eu lírico. A mariposa, atraída pela luz do fogo, acaba morrendo queimada, consumida pelas chamas. No caso do eu lírico isto representaria atingir plenamente o ser amado, ser consumido pela paixão que é correspondida. Entretanto como o ser amado é pedra, ou seja, é fria, embora também seja luz (a luz que adoro, o que forma um caráter paradoxal deste ser amado), o eu lírico lamenta por não conseguir ter o mesmo fim que a mariposa.

 05- A DOR

Em o horror desta muda soledade,
Onde voando os ares a porfia,
Apenas solta a luz a aurora fria,
Quando a prende da noite a escuridade.

Ah cruel apreensão de uma saudade!
De uma falsa esperança fantasia,
Que faz que de um momento passe a um dia,
E que de um dia passe à eternidade

   


    São da dor os espaços sem medida,
E a medida das horas tão pequena,
Que não sei como a dor é tão crescida.

Mas é troca cruel, que o fado ordena;
Porque a pena me cresça para a vida,
Quando a vida me falta para a pena.


                          GREGÉRIO DE MATOS

A influência de Camões é muito evidenciada nesse tipo de composição (lírica filosófica). Aqui, Gregório fica no campo das especulações, tentando obter respostas sobre dúvidas que dilaceram o eu lírico. Tais dúvidas, em grande parte, são oriundas do conflito espiritual vivenciado pelo autor.
Embora exista uma busca constante por respostas, o que se percebe é um eu poético perdido em suas indagações, transitando entre seus conflitos em busca de valores, como nos versos:
São da dor os espaços sem medida,
E a medida das horas tão pequena,
Que não sei como a dor é tão crescida.
Nesses versos temos o poeta evidenciando reflexões sobre uma dor. Dor que caracteriza-se exacerbadamente pelo eu lírico. Notamos que o exagero quanto ao sentimentalismo expresso configura o poema árcade de Gregório como sendo filosófico, pelas inquietações que o afligem.
ARCADISMO OU NEOCLASSICISMO –XVIII – AS LUZES
O arcadismo, também chamado de setecentismo (do século XVIII, ou os "anos de 1700") ou neoclassicismo é o período que caracteriza principalmente a segunda metade do século XVIII, tingindo as artes de uma nova tonalidade burguesa. A primeira metade do século XVIII marcou a decadência do pensamento barroco, para a qual colaboraram vários fatores: a burguesia ascendente, voltadas para as questões mundanas, passou a deixar em segundo plano a religiosidade que permeava o pensamento barroco; além disso, o exagero da expressão barroca havia cansado o público, e a chamada arte cortesã, que se desenvolvera desde a Renascença, atingia um estágio estacionário e apresentava sinais de declínio, perdendo terreno para a arte burguesa, marcada pelo subjetivismo. Surgiram, então, as primeiras arcádias, que procuravam a pureza e a simplicidade das formas clássicas.                
Na Itália essa influência assumiu feição particular. Conhecida como Arcadismo, inspirava-se na lendária região da Grécia antiga. Segundo a lenda, a Arcádia era dominada pelo deus Pan e habitada por pastores que, vivendo de modo simples e espontâneo, se divertiam cantando, fazendo disputas poéticas e celebrando o amor e o prazer. 

JÁ SE AFASTOU DE NÓS
Já se afastou de nós o Inverno agreste                                                                    



Envolto nos seus húmidos vapores;       
A fértil Primavera, a mãe das flores       
O prado ameno de boninas veste:                    
Varrendo os ares o subtil nordeste
Os torna azuis: as aves de mil cores
Adejam entre Zéfiros, e Amores,
E torna o fresco Tejo a cor celeste;
Vem, ó Marília, vem lograr comigo         
Destes alegres campos a beleza,           
Destas copadas árvores o abrigo:
Deixa louvar da corte a vã grandeza:           
Quanto me agrada mais estar contigo         
Notando as perfeições da Natureza!
                                         (BOCAGE)
Fica evidente, à simples leitura deste soneto de Bocage, que deixamos para trás os procedimentos literários cultistas e conceptistas.Os autores neoclássicos consideravam o rebuscamento barroco de extremo mau gosto. Procuraram, então, trestaurar o equilíbrio, a naturalidade, a clareza e a simplicidade, imitando os autores clássicos antigos e os renascentistas. Entretanto, a naturlidade pretendida resultou, muitas vezes, em seu oposto: a simplicidade artificial, retórica e mesmo afetada.
Nesse soneto, tivemos já contato com alguns dos temas convencionais do Neoclassicismo: o bucolismo (o eogio da natureza e da vida simples do campo), fugere urbem,o pastoralismo (Marilia é um nome convencional de pastora), as referências à mitologia clássica (os Zéfiros, personificação mitológica dos ventos suaves, e os Amores).


07- OLHA MARÍLIA, AS FLAUTAS DOS PASTORES

Olha Marília, as flautas dos pastores,
Que bem que soam, como são cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha: não sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores?

Vê como ali, beijando-se, os Amores
Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as inocentes
As vagas borboletas de mil cores!

 
Naquele arbusto o rouxinol suspira;
Ora nas folhas a abelhinha pára.
Ora nos ares sussurrando, gira.

Que alegre campo! Que manhã tão clara!
Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te vira,
Mais tristeza que a morte me causara.

                                          BOCAGE
ANÁLISE
Este é um dos poemas líricos mais conhecidos do poeta português Manuel Maria Barbosa Du Bocage. A natureza serve de cenário para o acontecimento sentimental: “Olha o Tejo a sorrir-se! Olha: não sentes”.   
O amor neste poema está alegre, o eu-lírico está satisfeito em amar Marília e deseja aproveitar a manhã com ela: “Vê como ali, beijando-se, os Amores/Incitam nossos ósculos ardentes!”. É um convite, mas também uma ilustração: “Ei-las de planta em planta as inocentes/As vagas borboletas de mil cores!”         
É ornamental, porque tais composições neoclássicas valiam-se de forma a exacerbar na descrição do campo. O poema é arrumado em soneto, marcado pelas regras: catorze versos distribuídos em dois quartetos e dois tercetos. Esse rigor sempre exige do poeta uma certa habilidade literária. Segundo este eu-lírico, tudo quanto de encantador a natureza exprime quando a contempla, não teria a mesma beleza sem a sua amada, como é perceptível no terceto seguinte: “Que alegre campo! Que manhã tão clara! /Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te vira, /Mais tristeza que a morte me causara”.       
A flauta, que faz alusão a Pan, deus que chefiava os pastores que se dedicavam além do pastoreio, à poesia, na Arcádia, região mitológica da Grécia: é daí que se origina o nome Arcadismo. A flauta está presente, como que para harmonizar ainda mais o ambiente: Olha Marília, as flautas dos pastores, /Que bem que soam, como são cadentes!”. 
A pureza que há na natureza supõe-se estar presente nas borboletas que este eu-lírico cita:” Ei-las de planta em planta as inocentes/ As vagas borboletas de mil cores!”. O amor deste eu-lírico tem luz, e pode até entristecer-se no caso de Marília não aparecer para, juntos, desfrutarem do ambiente natural que narra, mas não irá desfalecer, não irá desesperar-se e nem fenecer. Ficará triste, mas não mais que isso.




07- Ó RETRATO DA MORTE, Ó NOITE AMIGA
Ó retrato da morte, ó noite amiga 
Por cuja escuridão suspiro há tanto! 
Calada testemunha do meu pranto, 
De meus desgostos secretária antiga! 

Pois manda Amor, que a ti somente os diga, 
Dá-lhes pio agasalho no teu manto; 
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto 
Dorme a cruel, que a delirar me obriga:

E vós, ó cortesãos da escuridade, 
Fantasmas vagos, mochos piadores, 
Inimigos, como eu, da claridade! 

Em bandos acudi aos meus clamores; 
Quero a vossa medonha sociedade, 
Quero fartar meu coração de horrores.



                                
Bocage é um dos poetas mais populares da Literatura Portuguesa, e o destaque de sua obra vai para a poesia lírica, especialmente a realizada nos sonetos. Acredita-se que a poesia de Bocage apresenta uma bifurcação em dois ramos distintos, sendo, o primeiro deles, o fato de submeter-se a determinadas características do Neoclassicismo: a conservação do apuro formal (era um excelente sonetista) reafirma essa ideia; outra característica marcante deste ramo é o gosto pelo bucolismo. Há, ainda, o segundo ramo a se analisar: diz-se que, neste contexto, Bocage se enquadra em um arquétipo moderno ou romântico, um homem que é, agora, rebelde às convenções clássicas, um ser egocêntrico e individualista.
Com relação ao poema acima, pode-se tecer os seguintes comentários: relacionando o soneto com o primeiro ramo da bifurcação descrita acima, diz-se que nele não há muito de árcade, apesar de seguir o padrão do soneto. No poema analisado, o que mais é ressaltado é o sentimento, a morte, o destino e a natureza, cujas ideias nos remetem ao segundo ramoda poesia de Bocage.
É possível dizer que há valorização do sentimento e da emoção, em detrimento da razão. Observe no uso de palavras como "amor", "coração", "suspiro", "delirar". Há, também, o desespero íntimo, que o conduziu à preferência por imagens macabras e situações tétricas. Isso é observado na substituição do "locus amoenus" (lugar ameno) por "locus horrendus" (lugar horrível) nas seguintes expressões: "escuridão", "medonha sociedade", expressões estas que fazem estreita relação com seu impulso para a solidão, que o levou a escolher lugares ermos e a preferir a paisagem noturna. Exemplos disso são: "Ó noite amiga por cuja escuridão suspiro há tanto". Tal passagem nos mostra com clareza sua preferência pelo ambiente noturno, pela solidão, outra característica que Bocage incorpora em seus sonetos deste ramo.
O arrebatamento e o senso de auto- dilaceração demonstram o quanto sua poesia antecipa a atmosfera lúgubre e noturna dos ultrarromânticos. Também o uso dos vocativos - "ó retrato"; "ó noite", "ó cortesãos" - extrapola o equilíbrio e a contenção próprias de umtexto neoclássico. 






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